sábado, 26 de novembro de 2011

Treino em ladeira

                         LADEIRA ABAIXO     

      O repórter da National Geographic estranhou toda aquela parafernália. Antes de pular na água, vestiu uma espécie de macaquinho com uns ganchos. Ele ficaria conectado à uma roldana fixada no alto da piscina. Na verdade, nadaria rebocado por cabos que o fariam mais rápido. O repórter havia sido um esforçado nadador nos tempos de escola, naquele dia bateria um recorde americano com a ajuda do reboque.
       A reportagem era sobre o centro de treinamento americano de natação. A lógica era brilhante. Um dos limitadores de desempenho era a coordenação de movimentos. As roldanas ajudavam o nadador a ir mais rápido, mas também o ensinavam “como” ir mais rápido. Quando as roldanas fossem tiradas, o corpo do atleta já saberia se movimentar com uma frequência maior de braçadas.
Lembrei-me dessa história antes da meia maratona de Brasília, quando conversei com o treinador do Clube Pinheiros Cláudio Castilho. Falávamos sobre o fato da prova ser em descida, sobre a questão do ajuste de velocidade, sobre o desgaste muscular. E Cláudio comentou sobre a dificuldade brasileira de tirar proveito das descidas. “No geral, treinamos pouco, temos medo, tiramos pouco proveito da inclinação favorável. Em provas lá fora, é uma fragilidade nossa”.
       Na hora me lembrei do Cruce de los Andes. A brasileirada subia bem, performava legal no plano e nas descidas perdia terreno para os argentinos. Cláudio contou que estava trabalhando descidas na USP com seu grupo do Pinheiros. A lógica era exatamente a mesma das roldanas nas piscinas americanas. A ideia era aproveitar a gravidade para aprender a rodar mais rápido. A frequência de passadas aumenta, o corpo vai gravando essa nova velocidade. Conversei também com o professor Renato Dutra da Run & Fun, ele tinha a mesma impressão que as descidas são subestimadas nas planilhas de treinamento. Também se aprende a descer. Achar a mecânica certa faz todo sentido principalmente se encontraremos descidas nas provas que faremos.
       É evidente que o impacto também aumenta nas descidas. É preciso trabalhar melhor a musculatura, encontrar o tênis certo para essa sobrecarga, tomar todo o cuidado. Mas fingir que elas não existem não parece ser a melhor solução.

fonte: http://runnersworld.abril.com.br/blogs/correria/


Nenhum comentário: